13 março, 2009

Um novo começo

Mais uma vez ao pensar na existência de um potencial maior me admiro com a falta de resposta. As coisas hoje em dia estão tão degringoladas, que vejo entrar em cena todos os dias no meu quinhão a falta de ¼ do que recebo. É descabido demais! Enquanto de outra forma vejo escrito em palavras de ordem que o retorno é necessário. Esse aqué de valor que me é pago como salário de uma forma constitucional e concursada de emprego. A merreca diária de esforço de um reles funcionário público retornada a origem como esforço recompensado. Em meu entorno não vejo o dinheiro entrar para meus bolsos em retorno ao esforço. Não vejo a mais valia do seu Edgard. Não vejo a justiça. Mas não vejo em lugar algum a justiça! Justiça, não como aquela que usamos diariamente do sistema penal. Não quero que sejam penalizados, beltrano e fulano. Quero apenas que eu não seja prejudicado com a total falta de visão, com a estagnação, e com a falta de compreensão de quem está na situação do poder. Estou falando de alguns e de todas as formas de poder. A sedução do lado negro da força, como no filme para garotos de treze anos de idade, é grande. Mas como no texto de “Hipias maior” de Platão, para pessoas maduras e com doutorado, é escuso perguntar se realmente é vantajoso usar da sapiência para proveito próprio? E para acumular favores em beneficio próprio?
Não acho que é positivo o pensar em benefício das massas. Mas sim pensar em benefício de idéias e ideais. Objetivos. Isso sim são ideais! Os objetivos de valoração do bem coletivo. Os objetivos de fabricação de pessoas melhores! E não o de fabricação de pequenos sacripantas que desvalorizam os que se submetem ao trabalho mais braçal. O pensador existe em todos os que facultam a capacidade de abstrair. Ser é pensar o próprio ser. Agir, e não só agir, mas também fazer o que for possível para construir uma sociedade melhor. Distante de todos os conceitos de acumulação primitiva de capital. Distante de todo esse emaranhado em presente colapso desse sistema que valoriza apenas a degradação dos recursos em detrimento do distanciamento entre as pessoas e suas relações. Desejo, eu, estar. Longe dessa coisa que me agride a alma delicada de pensador. Longe de minha diretriz por acumular riquezas para dar melhores condições de vida para meus descendentes. De que valerá ter descendentes se apenas em escala decrescente da vida eles estiverem? De que vale ter filhos, netos, bisnetos se os recursos que acumulei foram para mim mesmo? Que vale para eu ser apenas um ser? Que seria eu se comesse, sem dó nem piedade, a carne dos meus filhos para não lhes permitir a sobrevivência neste mundo cão?

Sou um sonhador...

Tenho sonhado dia após dia com minha própria liberdade. Mas estou atado ao fundo de uma caverna a ver as sombras projetadas por meus irmãos dançando a minha frente. Estão todos em alvoroço, e eu me pergunto se serei somente eu que me vejo nesta situação: degradado, sujo, maltrapilho, e jogado ao fundo desta caverna atado a grilhões. Essa nossa nova sociedade de consumo me transformou nisso. Um mero escravo. Escravo da própria sociedade. Do próprio sistema. Sou assim mesmo, um produto. Sou um produto preso a mim mesmo, preso por minha própria sombra ao fundo da caverna. E para não morrer em mim, devoro-me todos os dias ao fígado como penitência, aguardando que no dia seguinte ele assim se tenha regenerado para que eu possa comê-lo novamente afim de não morrer de fome. Pois ao que tudo indica, sou um carnívoro faminto de minhas próprias convicções. Venerando meu egoísmo pérfido que me desalma a cada dia. Continuo seguindo sem dó e vou pelo caminho seqüestrando e roubando almas alheias que estão em meu caminho. Tomo-as sem medo e armazeno-as em meu alforje. Para, que, quando meu fígado me faltar eu possa sem medo sobreviver por mais um dia, Comendo ao fígado, cérebro e alma destes que deixo em carcaça pelo caminho.
E como para todas as carcaças, sempre existem aqueles que as devoram famintos, sem perceber que o mais importante do tutano e das tripas lhes foi privado. E da carcaça só sobra a superfície, partes sem valor, que ao serem devoradas e consumidas pouco tem a acrescentar à espécie.
Mas ainda sim, não me preocupo com os que me seguem a devorar as carcaças que abandono. Pois tudo neste atual mundo cão é consumível. Meu cérebro o é, meu corpo o é, minha alma a é. Meu mais profundo desejo o é.
Simples isso. Simples essa relação. Mas complicadas as suas conseqüências. O eterno retorno dos antigos povos, pensadores, místicos, alquimistas, Celtas, Egípcios, Fenícios, Maias, Astecas, Norte Americanos, Africanos, Chineses, Japoneses... O retorno os aguarda. E em 2001 a coisa só despontou. Desabrochada foi a pétala da rosa a se abrir. Contínuo passar do momento. Vida. Viva! Voraz! Audaz. Audazes os que pretendem seguir a diante, mesmo nesta horda. Nesta hora. Nossa oratória.
Sou apenas mais um daqueles especuladores que não se cansam de dizer continuamente o que se pode fazer para melhorar o dia a dia das pessoas. Estou aqui dizendo que ações e royalties não me dizem nada. Apenas as especulações que fazem com que estes produtos sejam valorizados, se é que eles valem alguma coisa. Somos todos produtos desses mesmos royalties, consumimos o que nos está a volta como se fossemos formigas, mas ao contrário das mesmas, nós comemos a rainha do cupinzeiro. Não queremos saber de matar apenas o necessário, não queremos saber de matar apenas para a sobrevivência. Queremos, sim sobreviver à custa da exploração dos nossos inferiores. Somos seres servientes, ora de nós, ora dos outros.
Mas sou carnívoro!
E continuo a viver em paz. Por sorte, sou um daqueles que tem consciência de que sou apenas mais um numa multidão de heróis do dia-a-dia, e sei que sou também o primeiro da fila a ser o devorador e o devorado. Antropófago, comedor de outros seres humanos, de outras partes iguais a mim. Outros, que não eu, são partes de mim, mas ainda sim sou devorado. Sou o devorador, sou um pequeno perdido. Um barco em vendaval sem âncora, e sem a queda. O cão que chorou com suas sete cabeças, Cérbero o devorador que chora. Sofreu sentido... Sem sentido. Depois do massacre encomendado. Formei alguns, mas tenho deixado muitos escapar. Crianças que estão perdidas, e que continuarão perdidas dentro de suas almas, vidas, sem reconhecer o verdadeiro valor de ser. A soberba eclode em ambientes assim. Não posso suportar a soberba de pessoas que não se reconhecem em si próprias, daí, como Cérbero, sou o primeiro a comê-los. Sem medo, com revolta, instigada pela ignorância da soberba suprema! Dessa coisa que pessoas como estes ignorantes fazem.
As palavras apenas são para serem usadas em sentido literário, mas ainda servem para poesia. E da poesia de poética cara. Elevam-me as idéias. E Lanço ao leu diverso sem dó. Mas deixo inequívocas as perdidas sem nó. Deixo flutuada as sem rima. Sambadas as sem letra. Poesias sem mixórdia. Letra sem eira, palavra de beira. Precipício de fundo. Palácio moribundo. Mundo morto dos defuntos.

Alexandre Guimarães

Um comentário:

Kátia disse...

Amigo,que só agora sei que chama-se Alexandre...
Gostava de saber o que é feito de ti.O desabafo aqui descrito foi algo avassalador.E eu desse lado,só desejo imensamente que esteja BEM!!!
Um beijo!